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Revista M&T - Ed.213 - Junho 2017
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Entrevista

Eduardo Brandão

“É preciso valorizar o projeto”
Por Marcelo Januário (Editor)

Diretor da Basf Construction Chemicals Latin America, o executivo português Eduardo Brandão está há 23 anos na empresa, para a qual já atuou em diferentes países da Europa, até assumir a liderança dos negócios da divisão de produtos químicos para construção na América Latina, um mercado avaliado em US$ 5 bilhões e que obtém os melhores resultados no Brasil, que consome um terço da demanda.

Licenciado em engenharia química pela Universidade da Beira Interior (UBI), em Portugal, com mestrado em finanças e economia pela Universitat Politècnica de Catalunya (UPC), na Espanha, Brandão iniciou a carreira na indústria de papel e celulose do país natal, ingressando posteriormente na Basf para gerir o negócio de químicos para papel, pigmentos e aditivos.

Em 2003, o engenheiro foi transferido para o escritório central da Basf em Ludwigshafen, na Alemanha, atuando por quatro anos na área de estratégias de químicos para o mercado europeu. Depois disso, mudou-se para a Espanha, dessa vez a fim de integrar-se à equipe da nova divisão de químicos para construção – criada em 2006 após a aquisição da concorrente Degussa Construction Chemical, por 2,7 bilhões de euros – e que ele acompanhou desde o início.

Há cerca de dois anos, Brandão veio ao Brasil com a missão de cuidar dos negócios na América Latina em um cenário de crise e, se possível, aumentar a participação da divisão de construção nos negócios do grupo. “Sinto-me à vontade na área de construção, pois é uma indústria bastante real”, diz ele. “Aquilo que se faz, se vê o efeito, seja nas obras, nos requisitos ou nas demandas técnicas.”

Qual é a participação da divisão de químicos no grupo?

A unidade fatura anualmente 2,5 bilhões de euros de um total de 74 bilhões de euros do grupo. Ou seja, representa algo como 3% do faturamento. Mas é importante frisar que a Construction Chemical não é a única divisão de construção, pois também temos a área de Performance Materials, que atua com isolamento térmico, e a de Dispersions & Pigments, que também trabalha com produtos para a área. Há alguns anos, nossa divisão era apenas um 1/3 do volume de negócios neste segmento. Portanto, [a partici


Diretor da Basf Construction Chemicals Latin America, o executivo português Eduardo Brandão está há 23 anos na empresa, para a qual já atuou em diferentes países da Europa, até assumir a liderança dos negócios da divisão de produtos químicos para construção na América Latina, um mercado avaliado em US$ 5 bilhões e que obtém os melhores resultados no Brasil, que consome um terço da demanda.

Licenciado em engenharia química pela Universidade da Beira Interior (UBI), em Portugal, com mestrado em finanças e economia pela Universitat Politècnica de Catalunya (UPC), na Espanha, Brandão iniciou a carreira na indústria de papel e celulose do país natal, ingressando posteriormente na Basf para gerir o negócio de químicos para papel, pigmentos e aditivos.

Em 2003, o engenheiro foi transferido para o escritório central da Basf em Ludwigshafen, na Alemanha, atuando por quatro anos na área de estratégias de químicos para o mercado europeu. Depois disso, mudou-se para a Espanha, dessa vez a fim de integrar-se à equipe da nova divisão de químicos para construção – criada em 2006 após a aquisição da concorrente Degussa Construction Chemical, por 2,7 bilhões de euros – e que ele acompanhou desde o início.

Há cerca de dois anos, Brandão veio ao Brasil com a missão de cuidar dos negócios na América Latina em um cenário de crise e, se possível, aumentar a participação da divisão de construção nos negócios do grupo. “Sinto-me à vontade na área de construção, pois é uma indústria bastante real”, diz ele. “Aquilo que se faz, se vê o efeito, seja nas obras, nos requisitos ou nas demandas técnicas.”

Qual é a participação da divisão de químicos no grupo?

A unidade fatura anualmente 2,5 bilhões de euros de um total de 74 bilhões de euros do grupo. Ou seja, representa algo como 3% do faturamento. Mas é importante frisar que a Construction Chemical não é a única divisão de construção, pois também temos a área de Performance Materials, que atua com isolamento térmico, e a de Dispersions & Pigments, que também trabalha com produtos para a área. Há alguns anos, nossa divisão era apenas um 1/3 do volume de negócios neste segmento. Portanto, [a participação] estaria ao redor de 7,5%.

Como a demanda se divide?

O mundo da construção pode dividir-se em duas partes. A primeira tem características tecnológicas mais desenvolvidas, portanto, a aplicação é mais avançada e o consumo, mais específico. O concreto usinado, por exemplo, representa cerca de 90% de todo o cimento na Europa, por exemplo. No Brasil e em outros países similares, são apenas 30%, com o resto vendido em saco, para concreto artesanal. Isto significa uma diferença tecnológica grande. Seja na eficiência da construção, como na própria utilização de máquinas e produtos químicos. Porém, há pouco a se fazer naqueles países, pois não há déficit estrutural ou residencial. Já para a América Latina chegar ao nível dos países mais desenvolvidos, o PIB precisa aumentar em 70%. É impossível. Mas, se pararmos de investir em países em desenvolvimento, será ainda pior. E há muita coisa por fazer. Mas isso depende do ritmo da economia.

O Brasil mantém-se como o principal mercado?

Pelas dimensões, o Brasil é o principal mercado na América Latina, conjuntamente com o México, que – por estar mais próximo dos EUA – consegue obter um nível de desenvolvimento tecnológico um pouco acima dos demais. Lá, o uso de concreto usinado já é quase o dobro do que [ocorre] no Brasil. Depois, há uma segunda linha de mercado, que inclui Colômbia, Peru, Chile, que ainda estão abaixo, mas evoluindo. Um caso a parte é o Panamá, com muitas obras, não só do canal, como de infraestrutura em geral, levando o PIB da construção a crescer 10% ao ano. Um terceiro nível inclui países menores, com oportunidades de desenvolvimento, mas de menor dimensão territorial. Isso inclui toda a América Central e os demais na América do Sul.

Qual é a importância dos químicos na construção?

O cuidado na escolha das soluções técnicas é fundamental. No Canal do Panamá, por exemplo, enquanto a ponte das Américas, a mais antiga, está sempre em manutenção, a nova ponte que está sendo construída tem durabilidade para 100 anos. Nas eólicas, passou-se das torres de metal para as de concreto, pois são maiores e permitem maior produção de energia. Mas para isso têm de ser bem-construídas, pois se começam a vibrar, a torre tem de parar. Há uma série de conceitos de eficiência a se considerar. Muita coisa já está desenvolvida nesse sentido. É preciso valorizar o projeto.

E em túneis, ocorre o mesmo?

A construção de túneis evoluiu muito. Isso é visível nas próprias máquinas. Desde a tecnologia tradicional, por explosões, até a tecnologia atual das tuneladoras, que é uma tecnologia essencialmente mecânica. Mas para determinados tipos de terreno, só a parte mecânica não resolve. Se for um terreno muito mole, a máquina não consegue escavar. Tem de haver algo que possa prepará-la para ser retirada. Em rocha dura é outra história, mais de lubrificação da cabeça da máquina. Mas nesse caso, também é preciso utilizar químicos, que promovem a eficiência da máquina. Ou seja, químicos são tecnologias de última geração, que acondicionam o solo e permitem que a máquina avance em velocidade constante. Uma máquina dessas tem um custo de US$ 120 mil por dia de operação. Se ela parar, perde-se dinheiro.

Essa interação com os equipamentos é irreversível?

Nas tuneladoras, os químicos realmente são muito importantes, pois atuam com a sua eficiência. Na construção do túnel do metrô de Barcelona, que passa por baixo da Basílica da Sagrada Família, seguimos a tuneladora por meio de um sistema informatizado, hora a hora, monitorando a velocidade e a vibração da operação. E foram os químicos que permitiram que não houvesse qualquer problema. São produtos que lubrificam a cabeça da máquina e, como disse, acondicionam o solo para ser escavado e recolhido. Ou seja, sim, as máquinas já não trabalham sem os químicos.

E no concreto fresco, qual é o papel dos produtos químicos?

A passagem do cimento ao concreto é uma reação química. Todo o resto, incluindo as máquinas, é influenciado por isto. Recentemente no Uruguai, por exemplo, quando foi necessário bombear o concreto fresco a uma altura de 900 m, utilizou-se apenas uma bomba, pois o traço permitia isso. Ou o projeto Yachthouse [Residence Club], em Santa Catarina, com quase 400 m e que também vai utilizar somente uma bomba de concreto. É a tecnologia que permite isso.

Isso também vale para o transporte de concreto?

Apresentamos há pouco uma nova tecnologia que permite ao concreto ficar muito mais tempo no caminhão betoneira, sem perda de características. Normalmente, tem de ser adicionada água, mas isso acarreta perda de resistência. E quando se tem o concreto fresco por mais tempo, tem-se um ganho importante. Se, além de fresco, o concreto tiver uma fluidez adequada, permite uma maior industrialização da obra. Assim, você pode produzir pré-moldados na própria obra. A tecnologia química já permite fazer isso.

Quais são as tendências em químicos hoje?

Promovemos as soluções que, no futuro, vão resolver os problemas do planeta. Nessa linha, a durabilidade das construções é cada vez mais importante, assim como o consumo energético. O investimento inicial pode ser maior, mas a vida útil do edifício, por exemplo, acaba por compensar o investimento. É uma mudança de mentalidade.

Isso também implica uma mudança cultural?

É normal que as pessoas pensem no preço, pois a vida toda foi assim. Mas os recursos não são infinitos. E há outro aspecto bastante real: os recursos econômicos para desenvolver o país já não estão disponíveis como antes. É preciso fazer mais com o mesmo dinheiro. É aí que entra o valor adicional da tecnologia, que tem vertentes de redução de custo global da obra. Mas, além da eficiência da construção, essas soluções também podem melhorar a vida das pessoas. Sustentabilidade não significa só meio ambiente, mas também química, materiais, máquinas, tudo isso tem de contribuir, pois isoladamente não se consegue fazer. A industrialização da construção é importante para o país, pois todos ganham.

A propósito, como a empresa vem enfrentando a crise?

São duas facetas: residencial e infraestrutura. Em 2016, foram 76 bilhões de reais em investimentos do BNDES. Este ano vai chegar a 26 bilhões. Estamos falando de uma redução de investimento estatal em infraestrutura de 70%. Isso é dramático! Na parte residencial, trata-se de um mercado que depende do consumidor. E, numa primeira fase, os dois segmentos foram abaixo. O que uma empresa faz nesses casos é reduzir um pouco a estrutura, trabalhando aspectos que possam manter ou rentabilizar as vendas. Nesse quadro, um aspecto importante – que em épocas de crise torna-se mais visível – é a ênfase na tecnologia.

E o que fazer neste cenário?

Num primeiro momento, tenta-se reduzir o custo de qualquer maneira. Só que, depois, há uma segunda fase. As pessoas percebem que não conseguem resolver os problemas só reduzindo custos. Assim, começa-se a pensar mais na globalidade da construção, como ser mais eficiente; é quando a tecnologia começa a ganhar mais importância. Isso sempre ocorre quando o mercado começa a se estabilizar em um nível mais baixo. É o que temos agora. Há atividade, mas ainda não é o que o país necessita. É aí que se começa a desenvolver soluções, ajudando a obter produtos de maior valor e a manter o negócio em um nível aceitável.

Já é possível vislumbrar uma virada?

O fato de não cair mais já dá possibilidade às empresas de começar a trabalhar. É a única parte positiva neste momento. Depois, chegará o momento em que haverá indicadores [de melhoria], o mercado residencial será o primeiro a dar o sinal, pois é mais ágil. A [situação da] infraestrutura é mais difícil, pois tem de se fazer licitação, o que leva ao menos um ano e meio, no melhor dos casos. Paramos um comboio que agora temos de pôr a andar outra vez.

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