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Máquinas e grandes obras: o plano chinês para reaquecer a economia

Pequim está investindo pesado na infraestrutura interna, empregando milhões de pessoas

Exame

18/08/2020 11h00 | Atualizada em 18/08/2020 11h10

Em uma fábrica na cidade chinesa de Xuzhou, 100 novos trabalhadores acabam de ser contratados para produzir grandes guindastes para o setor de construção.

Nas proximidades, em outra fábrica, os funcionários trabalham até meia-noite para montar máquinas de perfuração e tunelamento. A poucos quarteirões de distância, seus colegas de uma fábrica que faz caminhões de lixo receberam encomendas suficientes para mantê-los ocupados até boa parte do ano que vem.

Essas fábricas, e mais meia dúzia na cidade, são todas propriedades da Xuzhou Construction Machinery Group, um gigante industrial estatal que fabrica o maquinário para o mais recente boom de construção da China.

A empresa, maior produtora de equipamentos de construção do país, está no centro da estratégia de Pequim para reanimar a economia depois da pandemia do Coronavírus, apostando em uma estratégia já testada: investir em projetos de infraestrutura doméstica.

A China parece ter praticamente erradicado o Coronavírus dentro de suas fronteiras. Mas surtos no exterior causaram c

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Em uma fábrica na cidade chinesa de Xuzhou, 100 novos trabalhadores acabam de ser contratados para produzir grandes guindastes para o setor de construção.

Nas proximidades, em outra fábrica, os funcionários trabalham até meia-noite para montar máquinas de perfuração e tunelamento. A poucos quarteirões de distância, seus colegas de uma fábrica que faz caminhões de lixo receberam encomendas suficientes para mantê-los ocupados até boa parte do ano que vem.

Essas fábricas, e mais meia dúzia na cidade, são todas propriedades da Xuzhou Construction Machinery Group, um gigante industrial estatal que fabrica o maquinário para o mais recente boom de construção da China.

A empresa, maior produtora de equipamentos de construção do país, está no centro da estratégia de Pequim para reanimar a economia depois da pandemia do Coronavírus, apostando em uma estratégia já testada: investir em projetos de infraestrutura doméstica.

A China parece ter praticamente erradicado o Coronavírus dentro de suas fronteiras. Mas surtos no exterior causaram crises econômicas em outros lugares que prejudicaram a demanda por exportações chinesas, incluindo os caminhões e máquinas fabricados em Xuzhou.

Os mercados externos ajudaram a impulsionar o rápido crescimento do país por quatro décadas. Mas agora a China volta a fazer negócios com um cliente local: ela mesma.

Mais uma vez, Pequim está investindo pesado na própria infraestrutura, empregando milhões de pessoas não apenas para construir novas estradas, linhas ferroviárias e sistemas de esgoto, mas também para produzir os equipamentos necessários para esses projetos.

“Este é um ano muito ruim para contratos no exterior, e não posso viajar”, disse Vincent Cao, gerente de equipamentos de perfuração e tunelamento da empresa, mais conhecida por suas iniciais, XCMG. Apesar dessas limitações, ele afirmou que os negócios estão crescendo, acrescentando: “É um bom ano para a China.”

A princípio, a estratégia parece estar funcionando. Grandes investimentos ajudaram a fazer da China a primeira grande economia a ver uma recuperação depois do surto, com a produção subindo 3,2 por cento de abril a junho em comparação com o mesmo período do ano passado.

A economia está revivendo, mesmo que a desaceleração da Europa agora pareça significativamente mais profunda do que o esperado originalmente, e que a economia dos EUA enfrente desafios.

As campanhas de investimento anteriores deram à China uma das melhores infraestruturas do mundo, incluindo o trem mais rápido e a ponte marítima mais longa.

Mas essa última empreitada tem seu próprio conjunto de riscos e coloca o país em desacordo com a situação do resto do mundo, que enfrenta uma crise.

Praticamente todos os projetos de infraestrutura da China estão sendo financiados com mais dívidas. Economistas alertam que o pagamento de juros sobre toda essa dívida pode ser um empecilho para o crescimento futuro.

Além disso, alguns economistas chineses afirmaram que o país não precisa de mais megaprojetos, mas se beneficiaria de programas modestos, como a construção de melhores sistemas de esgoto em áreas residenciais.

Embora esses projetos de infraestrutura menos glamorosos melhorem a qualidade de vida da população, eles oferecem pouca glória ou recompensa política para as autoridades locais que os supervisionam.

Os capitães da indústria chinesa prosperaram construindo os principais projetos do país, e não melhorando a estrutura do saneamento básico. Wang Min, presidente de longa data da XCMG, disse que queria fazer grandes máquinas para grandes projetos, espaço no qual poucas outras empresas chinesas podem competir.

Quando foi informado sobre um sistema de esgoto que estava sendo substituído em Xuzhou com o uso de equipamentos de construção de tamanho modesto, Min não se entusiasmou.

“Qualquer empresa pode fabricar esse tipo de escavadeira, por isso não temos nenhum tipo de força competitiva. Mas, em matéria de escavadeiras imensas, a XCMG tem uma vantagem.”

Muito antes de construir alguns dos maiores guindastes e tratores do mundo, a XCMG começou a fabricar minas terrestres para o Exército Popular de Libertação durante a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, produziu arados durante um curto período, até optar por fazer máquinas de construção.

A empresa, que pertence ao governo municipal de Xuzhou, ainda está inextricavelmente entrelaçada ao Estado e aos militares, embora não produza mais armas.

A XCMG é parte integrante da estratégia de desenvolvimento do país e, com a prosperidade deste, a empresa também cresceu.

Durante o último boom da infraestrutura, destinado a tirar o país da crise financeira global, as vendas da XCMG aumentaram oito vezes de 2008 a 2010. Quando Xi Jinping, o principal líder chinês, lançou sua Iniciativa Cinturão e Rota em 2013, que oferecia enormes empréstimos aos países em desenvolvimento para comprar produtos chineses, a XCMG estava lá, lucrando com as exportações para países como a Venezuela e a Nigéria.

Agora a empresa está mudando a marcha novamente. Muitos países em desenvolvimento lutam para pagar suas dívidas com bancos estatais chineses e não conseguem comprar tratores e outros equipamentos. A China quase fechou completamente suas fronteiras, adicionando mais uma dificuldade para os gestores da XCMG, que tentam fechar negócios em mercados distantes.

Mas a China também olha para si mesma. O líder chinês definiu o alívio da pobreza como a principal meta econômica do país este ano. Muitas das áreas mais pobres são aldeias remotas, e levar linhas rodoviárias e ferroviárias a elas requer a construção de pontes e túneis. Isso significa colocar muita gente e muitos equipamentos da XCMG para trabalhar.

O primeiro-ministro Li Keqiang, o segundo líder mais poderoso da China, pediu em maio que grande parte dos novos gastos com construção seja efetuada perto dos locais em que as pessoas vivem. Isso faria com que milhões de trabalhadores rurais que perderam o emprego em fábricas que produzem mercadorias para exportação encontrassem um novo posto de trabalho sem precisar migrar para cidades distantes.

O escopo do mais recente boom de construção da China é enorme, e a XCMG está desempenhando um papel fundamental. Trinta e sete cidades chinesas estão em processo de construção de um total de 150 novas linhas de metrô, e a empresa está fabricando os equipamentos necessários para metade delas.

O sistema ferroviário de alta velocidade do país, que já conecta mais de 700 cidades, está se expandindo tão rápido que compra anualmente três vezes mais bate-estacas do que os mercados europeu e norte-americano juntos. A XCMG, maior produtora mundial desse equipamento, forneceu a maioria deles.

Mas, o plano para sair da crise da pandemia contrasta com as políticas da maioria dos governos ocidentais. Os economistas ocidentais geralmente recomendam transferir dinheiro diretamente para os consumidores, em vez de construir cada vez mais ferrovias e rodovias.

“Seria mais eficiente lhes dar o dinheiro do que gastar dois terços dele em aço e petróleo ou qualquer outra coisa”, comentou Michael Pettis, professor de Finanças da Universidade de Pequim.

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