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Revista M&T - Ed.167 - Abril 2013
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Pesquisa

Todo mundo está de olho no Brasil

Engenheiro metalurgista com livre-docência na área de Tratamento de Minérios, o professor Arthur Pinto Chaves tem mais de 40 anos de atuação profissional e pesquisas acadêmicas na área de mineração. Nos anos 70, iniciou sua carreira no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), passando posteriormente por empresas como Paulo Abib Engenharia, Alternativa Engenharia de Minas, Promon e Brumadinho, até retornar ao IPT em 1983. Atualmente, é membro da equipe de processos mínero-metalúrgicos da Progen Projetos, Gerenciamento e Engenharia.

Paralelamente à atuação no mercado, desde 1976 o especialista mantém uma intensa e prolífica atividade acadêmica. Já foi professor da Escola Politécnica da USP onde se aposentou em 1999 e na qual ainda leciona como professor colaborador, além de liderar o programa de MBA em mineração na Vale.

Ainda na área de pesquisa, o professor também é autor de uma coleção que já conta com seis volumes, incluindo a obra de referência “Teoria e Prática do Tratamento de Minérios” e um novo volume sobre densidade de minerais, que acaba de ser lançado. Nesta entrevista, o professor discorre sobre o novo código do setor, licenças ambientais, técnicas de extração, investimentos, equipamentos móveis e outros assuntos relacionados à mineração no país.

M&T – Quais são as principais conclusões de suas pesquisas?

Arthur Pinto Chaves – A grande conclusão é que os minérios fáceis acabaram. Hoje, trabalhamos com minerais cada vez mais pobres e mais finos. Trata-se um material que gera muita lama, acarreta muita perda, com tamanhos impossíveis de tratar, ficando cada vez mais difícil. Entretanto, o conhecimento tecnológico aumentou muito. Então, o que se perde com as dificuldades é ganho em recursos, tanto na técnica de beneficiamento quanto na caracterização do minério. Antes, não tínhamos microscopia eletrônica, hoje é rotina, feita em qualquer laboratório. As análises químicas são robotizadas, feitas 24 horas por dia.

M&T – Como o setor é visto na academia?

Arthur Pinto Chaves – Existe a mineração propriamente dita, feita por grandes empresas como a Vale, Anglo American, Ferrous, e o garimpo. O garimpo é uma atividade


Engenheiro metalurgista com livre-docência na área de Tratamento de Minérios, o professor Arthur Pinto Chaves tem mais de 40 anos de atuação profissional e pesquisas acadêmicas na área de mineração. Nos anos 70, iniciou sua carreira no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), passando posteriormente por empresas como Paulo Abib Engenharia, Alternativa Engenharia de Minas, Promon e Brumadinho, até retornar ao IPT em 1983. Atualmente, é membro da equipe de processos mínero-metalúrgicos da Progen Projetos, Gerenciamento e Engenharia.

Paralelamente à atuação no mercado, desde 1976 o especialista mantém uma intensa e prolífica atividade acadêmica. Já foi professor da Escola Politécnica da USP onde se aposentou em 1999 e na qual ainda leciona como professor colaborador, além de liderar o programa de MBA em mineração na Vale.

Ainda na área de pesquisa, o professor também é autor de uma coleção que já conta com seis volumes, incluindo a obra de referência “Teoria e Prática do Tratamento de Minérios” e um novo volume sobre densidade de minerais, que acaba de ser lançado. Nesta entrevista, o professor discorre sobre o novo código do setor, licenças ambientais, técnicas de extração, investimentos, equipamentos móveis e outros assuntos relacionados à mineração no país.

M&T – Quais são as principais conclusões de suas pesquisas?

Arthur Pinto Chaves – A grande conclusão é que os minérios fáceis acabaram. Hoje, trabalhamos com minerais cada vez mais pobres e mais finos. Trata-se um material que gera muita lama, acarreta muita perda, com tamanhos impossíveis de tratar, ficando cada vez mais difícil. Entretanto, o conhecimento tecnológico aumentou muito. Então, o que se perde com as dificuldades é ganho em recursos, tanto na técnica de beneficiamento quanto na caracterização do minério. Antes, não tínhamos microscopia eletrônica, hoje é rotina, feita em qualquer laboratório. As análises químicas são robotizadas, feitas 24 horas por dia.

M&T – Como o setor é visto na academia?

Arthur Pinto Chaves – Existe a mineração propriamente dita, feita por grandes empresas como a Vale, Anglo American, Ferrous, e o garimpo. O garimpo é uma atividade clandestina, ilegal e totalmente à margem da mineração. E hoje, o grande impacto ambiental é feito pelos garimpeiros. Mas a mídia se fixa nisso para “demonizar” a mineração e a atividade acaba sendo detratada pelos ecologistas... A consequência é que, nas escolas de engenharia, temos muito poucos alunos de graduação, pois os ingressantes têm preconceito contra engenharia de minas. Mas, quando se formam, começam a trabalhar e caem na realidade, eles querem fazer pós-graduação na área. Na USP, já chegamos a ter três alunos de pós para um único de graduação. Isso é fruto de um preconceito muito grande, sendo que o pessoal de meio ambiente – do Ministério do Meio Ambiente, do Incra etc. –, vê a mineração como vilão e dificulta ao máximo tudo o que se refere ao assunto.

M&T – As empresas estão em um patamar alto de sustentabilidade ambiental?

Arthur Pinto Chaves – Eu diria que sim, pois existe uma consciência muito grande das empresas e dos profissionais. A Vale, por exemplo, é uma empresa impecável em relação a questões ambientais pela própria pressão exercida pelo governo e acionistas, mas só conseguiu viabilizar o projeto de Carajás no começo do ano passado. Tudo por conta de exigências ambientais. No meu entendimento, muitas delas descabidas. A empresa desenvolveu um processo de direcionamento do minério completamente a seco, sem utilizar água, para não gerar barragens de rejeito e, evidentemente, economizar água. Isso na Linha do Equador, um local que tem uma quantidade enorme de água doce. Na tentativa de minimizar o impacto ambiental, evitando conflitos com ambientalistas, a empresa adotou essa solução que, no entanto, vai criar problemas tecnológicos como na drenagem do minério, por exemplo.

M&T – Como analisa o impasse do marco regulatório?

Arthur Pinto Chaves – Esse marco regulatório é bem-intencionado, mas um pouco irreal, pois está sendo feito sem uma discussão com a comunidade. Algo que está vindo de cima para baixo e que, por isso, não vai pegar. O setor já está travado, pois todo fica mundo à espera do marco regulatório e o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) não licencia mais nada. Então, ficamos sem licenciamento de instalação, de operação e mesmo ambiental desde março do ano passado. Evidentemente, isso está prejudicando demais a atividade.

M&T – Como está o setor em termos de inovação operacional?

Arthur Pinto Chaves – Atualmente, o setor comporta uma pesquisa tecnológica muito intensa. Em relação à poeira, por exemplo, a prática convencional é jogar água para baixá-la. Só que, se for jogada muita água, vai umedecer e encharcar o minério, gerando problemas de transporte, pois o minério vai grudar na correia, na caçamba do caminhão etc. Então, hoje é utilizada água com sabão, por exemplo, para diminuir a tensão superficial. Com isso, se diminui o tamanho das gotas de água e a quantidade de água adicionada. Além disso, há uma série de controles totalmente automatizados.

M&T – Há limitações para o uso de equipamentos móveis na mineração?

Arthur Pinto Chaves – É preciso prestar atenção à escala de lavra. Uma escavadeira para alimentar um caminhão de 400 t, por exemplo, tem de ser imensa, resultando em baixíssima mobilidade. Dependendo do tipo de lavra, da topografia da mina etc., fica muito difícil utilizar equipamentos móveis. Já numa mina plana, como de calcita e carvão, é muito mais fácil.

M&T – A substituição de caminhões por esteiras é positiva?

Arthur Pinto Chaves – Extremamente positiva. A Vale tem um programa em Carajás de “truckless mine”, sem uso de caminhões. Trata-se do que eles chamam de britagem móvel: a britagem vai se movendo e acompanhando a frente de lavra, com o percurso feito por transportadoras. Como o minério precisa ser britado para transporte por correias, a britagem vai se movendo – a cada cinco, dez anos – para mais próximo da frente de lavra. A partir daí, utiliza-se o transportador de correia.

M&T – O setor tem assimilado novas tecnologias?

Arthur Pinto Chaves – No Brasil, ainda vemos muita pouca coisa. Mas nos EUA e no Canadá, há uma pesquisa intensa. As minas subterrâneas lá são quase todas robotizadas, operadas remotamente. E essa tendência é irreversível.

M&T – Quais são as principais tendências em técnicas de extração?

Arthur Pinto Chaves – Temos duas tendências. Em certos tipos de depósitos, como calcitas e carvão, você tem de remover uma grande quantidade de estéril para extrair o minério. Nessa linha, a grande tendência são os mineradores de lavra contínua, como as escavadeiras com roda de caçamba de até 35 m de diâmetro e grande capacidade de manuseio. Isso já está sendo cogitado em Carajás (PA), na mineração Rio do Norte, em Porto Trombetas (PA), e em Barro Alto (GO), na Companhia Brasileira de Alumínio. A outra tendência é de otimização do plano de fogo (definição da forma de se trabalhar em uma bancada) na mina. Hoje, é muito mais barato fazer o desmonte com explosivos do que britar e moer o minério.

M&T – As minas profundas representam um desafio?

Arthur Pinto Chaves – Antes, tínhamos os garimpeiros e todo o ouro de superfície foi lavrado, o que ficou foi mina profunda. E isso está acontecendo com todos os minérios. Hoje, temos apenas minérios mais profundos, mais pobres e mais difíceis de lavrar e beneficiar.

M&T – Qual tem sido o impacto dos crescentes investimentos no setor?

Arthur Pinto Chaves – O Brasil é um dos grandes países mineradores, com uma fronteira mineral ainda inexplorada. Desde que os militares fizeram o primeiro mapeamento, tem-se relevado jazidas com classe mundial, de alto teor e um volume que permite a exploração econômica por muitos anos. É o caso de Carajás, de Salobo e Cristalina (minério de cobre) e de Mirabela, a maior mina do mundo em níquel. Temos um potencial muito grande e todo mundo está de olho aqui.

M&T – Existe uma previsão para esgotamento dos minérios?

Arthur Pinto Chaves – O setor está muito preocupado com essa questão. Nos últimos anos deixou de haver um trabalho de pesquisa básica e mapeamento geológico. O que era conhecido já está sendo cultivado e não sabemos onde estão os novos depósitos. E isso é uma falha grave de planejamento.

 

 

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