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Revista M&T - Ed.121 - Fevereiro 2009
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Preparação do canteiro

Quando o desmatamento é uma tarefa legal

Abrir caminho no meio da mata para a execução de uma obra não é uma tarefa fácil e exige engenharia, equipamentos especiais e o cumprimento de muitos cuidados ambientais
Por Camila Waddington

Antes da construção de uma barragem ou de uma rodovia em locais de mata densa, as empreiteiras precisam realizar a abertura da área para execução da terraplanagem. Trata-se da fase de desmatamento, um processo devidamente autorizado pelos órgãos de proteção ao meio ambiente, cuja execução despende uma cuidadosa gestão ambiental e a mobilização de equipamentos especiais.

Essa experiência pode ser observada tanto numa obra em execução na Amazônia, como a hidrelétrica de Santo Antônio, que está sendo construída no rio Madeira, quanto na implantação de infraestrutura viária na Grande São Paulo, como é o caso do Rodoanel Mário Covas. Em ambos os projetos, antes
do início das obras foi preciso remover a vegetação local com a derrubada de árvores de mais de 40 m de altura, em alguns casos, por meio de máquinas e procedimentos específicos para essa tarefa.

A primeira etapa de uma obra que exige desmatamento é sempre a liberação da área pelo órgão ambiental correspondente, que no caso da União é o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). “Assim como nas demais obras de hidrelétricas, o primeiro passo no projeto de Santo Antônio foi obter a liberação do Ibama para a construção da barragem, seguida pela da área a ser desmatada para receber seu reservatório”, afirma Augusto Silva Filho, gerente de equipamentos da Odebrecht e responsável pela gestão da frota mobilizada pelo consórcio construtor da hidrelétrica.

Preparação da madeira

Depois das liberações ambientais, o processo começa com o corte das árvores por motosserras, seguido pelo seu desgalhamento e a posterior construção dos acessos para os caminhões que irão retirar esse material. “No nosso caso, as árvores derrubadas foram picadas em tamanhos diferentes, de acordo com o diâmetro de seu tronco”, diz Augusto. O especialista explica que a maioria delas tinha de 60 a 80 cm de diâmetro, enquanto algumas espécies apresentavam troncos entre 30 e 60 cm, além da ocorrência de galhos menores, que, dependendo da qualidade da madeira, também eram armazenados para aproveitamento.

Os galhos não aproveitados no desmatamento da área eram encaminhados para bota-foras definidos pelo Ibama. Seu transporte empregou caminhões basculantes de 26 t, dotados de três eixos e caçamba


Antes da construção de uma barragem ou de uma rodovia em locais de mata densa, as empreiteiras precisam realizar a abertura da área para execução da terraplanagem. Trata-se da fase de desmatamento, um processo devidamente autorizado pelos órgãos de proteção ao meio ambiente, cuja execução despende uma cuidadosa gestão ambiental e a mobilização de equipamentos especiais.

Essa experiência pode ser observada tanto numa obra em execução na Amazônia, como a hidrelétrica de Santo Antônio, que está sendo construída no rio Madeira, quanto na implantação de infraestrutura viária na Grande São Paulo, como é o caso do Rodoanel Mário Covas. Em ambos os projetos, antes
do início das obras foi preciso remover a vegetação local com a derrubada de árvores de mais de 40 m de altura, em alguns casos, por meio de máquinas e procedimentos específicos para essa tarefa.

A primeira etapa de uma obra que exige desmatamento é sempre a liberação da área pelo órgão ambiental correspondente, que no caso da União é o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). “Assim como nas demais obras de hidrelétricas, o primeiro passo no projeto de Santo Antônio foi obter a liberação do Ibama para a construção da barragem, seguida pela da área a ser desmatada para receber seu reservatório”, afirma Augusto Silva Filho, gerente de equipamentos da Odebrecht e responsável pela gestão da frota mobilizada pelo consórcio construtor da hidrelétrica.

Preparação da madeira

Depois das liberações ambientais, o processo começa com o corte das árvores por motosserras, seguido pelo seu desgalhamento e a posterior construção dos acessos para os caminhões que irão retirar esse material. “No nosso caso, as árvores derrubadas foram picadas em tamanhos diferentes, de acordo com o diâmetro de seu tronco”, diz Augusto. O especialista explica que a maioria delas tinha de 60 a 80 cm de diâmetro, enquanto algumas espécies apresentavam troncos entre 30 e 60 cm, além da ocorrência de galhos menores, que, dependendo da qualidade da madeira, também eram armazenados para aproveitamento.

Os galhos não aproveitados no desmatamento da área eram encaminhados para bota-foras definidos pelo Ibama. Seu transporte empregou caminhões basculantes de 26 t, dotados de três eixos e caçamba de 14 m³, carregados com retroescavadeiras e uma pá carregadeira equipada com pinça na extremidade do braço. Augusto explica que esse implemento funciona como um alicate e facilita a pega dos feixes de galhos. “Como subempreitamos essa atividade, sua execução ficou por conta do prestador de serviços, que preferiu usar somente uma dessas pinças e fazer o restante com as retros.” Mesmo assim, ele diz que a rapidez que a ferramenta proporciona ao trabalho é inquestionável.

Com todas as árvores ao chão na área delimitada para desmatamento, os tratores de esteiras entraram em cena simultaneamente às atividades de remoção dos galhos para aproveitamento ou para bota-fora. “Eles atuaram basicamente na remoção da vegetação rasteira, que chegava a atingir 2 m de altura, arrastando esse material e os tocos de árvores que conseguissem retirar do solo.” Para a execução dessa tarefa, os equipamentos usaram basicamente a potência de seu motor e a lâmina, que arrastava a camada superficial de solo com raízes e a vegetação menor.

Equipamentos usados

No projeto da usina de Santo Antônio, que está sendo construida em Rondônia, a abertura da área mobilizou tratores de esteiras de 20 t que mais lembravam um unicórnio, pois foram adaptados para receber um dente acoplado à lâmina. Isso porque eles também tinham outra função: empurrar determinadas árvores que haviam permanecido em pé mesmo após a ação das motosserras.

Além desses equipamentos, a operação mobilizou tratores agrícolas equipados com guinchos, os denominados skids, usados para arrastar as toras de madeira derrubadas até locais preestabelecidos. “Tanto os skids como os tratores de esteiras foram dotados de cabine reforçada com estruturas tubulares de aço, até mesmo no teto, para sua proteção contra a possível queda de objetos ou de uma árvore.” Augusto explica que as estruturas também foram dimensionadas para proteger o para-brisa e a parte frontal das máquinas, de forma a preservar o operador e o radiador de eventuais acidentes.

A proteção dos radiadores, aliás, envolveu a instalação de uma chapa de 6 mm de espessura, semelhante a uma veneziana, fixada em frente a sua colmeia. “Devido ao ambiente de trabalho, com muita poeira e objetos em suspensão no ar, programamos paradas para a limpeza do radiador com o uso de ar comprimido em intervalos preestabelecidos”. A conservação do sistema de arrefecimento das máquinas ficou sob responsabilidade dos operadores, incumbidos de realizar diariamente a inspeção visual do radiador.

Após a completa retirada dos troncos, galhos e raízes existentes no terreno, a etapa de desmatamento encerrou com a remoção da camada de solo vegetal. “Essa tarefa é muito específica desse projeto, pois, após a escavação até a rocha para estabelecermos as fundações da obra, a área ficará com um solo praticamente estéril”, explica o especialista. “Por esse motivo, estamos armazenando esse material fértil para recompor as condições originais da região.” Segundo ele, o serviço envolve a escavação de 40 milhões de m³ de solo vegetal, cerca de 18 milhões de m³ de rocha.

A área desmatada para a construção da hidrelétrica de Santo Antonio é de 340 ha, sendo 300 ha na margem esquerda do rio Madeira e 40 ha na margem direita. Para isto, além das dezenas de caminhões usados no transporte de madeira e solo vegetal, a obra mobiliza dois tratores de esteira de 20 t, duas retroescavadeiras, duas pás carregadeiras com acessório para empilhamento frontal, dois tratores agrícolas (skid) e uma pá carregadeira com garfo frontal. A obra está sendo executada por 1.300 funcionários diretos e indiretos, dos quais 63 trabalham exclusivamente na abertura de áreas.

Mata em torno da metrópole

Diferentemente da hidrelétrica de Santo Antônio, em construção na Amazônia, o trecho sul do Rodoanel Mario Covas está sendo executado em torno da maior concentração populacional do País, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mas isto não reduz os cuidados ambientais em relação à obra. Muito pelo contrário, já que o empreendimento passa por áreas de mananciais e de preservação da Mata Atlântica que se alternam com regiões densamente habitadas. Por esse motivo, como na implantação de um gasoduto, a área liberada para desmatamento nessa obra fica restrita a sua faixa de domínio.

Um exemplo desses cuidados pode ser observado no lote 2 do projeto, sob responsabilidade do consórcio composto pelas construtoras Odebrecht e Constran (Consórcio Arcosul). Alternando trechos densamente habitados com uma área de represa – onde, inclusive, ocorre a captação de água para abastecimento dos municípios do ABC Paulista – e pontos remanescentes de mata nativa, o traçado da obra deve ser desenvolvido com a remoção cuidadosa da vegetação, sem margem para desvios em relação ao projeto original, por meio fitas zebradas e estacas pintadas.

Além da marcação minuciosa da área, a obra foi antecedida pelo inventário da vegetação junto ao Ibama, que estipulou as medidas de reflorestamento a serem adotadas em cada trecho. Em alguns casos, por exemplo, as espécies encontradas precisaram ser removidas cuidadosamente para seu replantio em outros locais: as unidades de preservação instituídas pelo empreendimento.

“Os desmatamentos também foram antecedidos pelo estudo da fauna, a captura de espécies em extinção e o afugentamento das demais antes da derrubada das árvores”, diz Cláudia Dias, responsável pela área de meio ambiente do consórcio.

Segundo Fabrícia Sá, também responsável pela área na Arcosul, o desmatamento foi subcontratado a uma empresa especializada, a Conlim, que executou o serviço com o uso de motosserras. Para desenvolver esse trabalho, ela precisou apresentar seu cadastro ao Ibama e recolher uma taxa para cada motosserra mobilizada. “Ao todo, utilizamos 24 equipamentos para picar árvores de diversos tamanhos, sendo que as com tronco de diâmetro acima de 40 cm foram picadas em pedaços de até 4 m e as menores, em segmentos de 1 m de comprimento”, completa Gonçalves Camargo, diretor comercial da Conlim.

Processos manuais

Toda essa madeira foi leiloada pela empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), autarquia pertencente ao governo do estado de São Paulo e responsável pela contratação da obra. Para isto, elas precisaram ser armazenadas, o que exigiu o empilhamento de todas as toras manualmente, no caso dos galhos menores, ou por meio de um trator equipado com guincho – uma espécie de pinça com quatro garras. “Antes dessa operação, tratores de esteiras preparavam o acesso com a limpeza do terreno”, diz Orres Vicente da Silva, encarregado geral da obra no Arcosul.

A proteção dos equipamentos contra eventuais acidentes, segundo ele, resumiu-se a um gradil de ferro instalado na parte frontal de cada unidade. A remoção dos troncos maiores, que os tratores não conseguiam retirar durante a limpeza do terreno, ficava por conta de uma escavadeira Komatsu PC200, da classe de 22 t,  ou de um trator agrícola John Deere adaptado com um guincho. “Nesse último caso, nós amarrávamos um cabo de aço ao tronco para puxá-lo com o guincho.” A frota mobilizada para
o desmatamento no lote 2 da obra envolveu basicamente dois tratores agrícolas com guincho, dois tratores de esteiras e uma escavadeira.

A mobilização de poucos equipamentos, nesse caso, foi ocasionada pelo maior uso do processo manual. Além de optar por motosserras para a derrubada da vegetação, as toras eram picadas e empilhadas por operários e seu carregamento nos caminhões também empregava método manual. O transporte da madeira foi realizado por caminhões basculantes com caçamba de 18 m³, também usados para levar o solo orgânico até a área de armazenamento para seu uso posterior na recomposição do terreno.

Nesse último caso, o carregamento dos materiais empregou pás carregadeiras. “Ao todo, armazenamos e reaproveitamos 25.000 m3 de solo orgânico, também denominado de serrapilheira, volume que foi retirado de uma área total desmatada de 1,5 milhões de m2, localizada entre as rodovias Anchieta e Imigrantes”, diz Fabrícia. Segundo ela, 40% da área desmatada correspondia a vegetação nativa e o restante compreendia mata já replantada.

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