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Revista M&T - Ed.201 - Maio 2016
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Coluna Yoshio

Mais um tapa na cara dos brasileiros

Quando o ‘benefício’ oferecido à população não passa de um improviso descuidado, em uma dissimulação que expõe as pessoas ao risco, não pode ser chamado de ‘apoio à causa’

Data que historicamente comemora a luta e resistência do povo brasileiro, o 21 de abril deste ano infelizmente tornou-se mais um dia de “tapa na cara” de todos nós. Refiro-me ao dia em que um trecho de 50 m da Ciclovia Tim Maia desabou por conta de uma costumeira ressaca no Rio de Janeiro, matando ao menos três pessoas. Como fato isolado, pode-se questionar a qualidade do projeto, a falta de conhecimento apropriado das características das ondas no local, as dúvidas sobre a construção... E todo o inconformismo será atirado contra as pessoas diretamente associadas a esta obra. Ainda mais por tratar-se de um lugar lindo e paradisíaco, um “cartão postal”, como se dizia em outros tempos.

Mas, quando a este fato agregamos os projetos de ciclovias tocados em várias cidades do país, torna-se patente a precipitação com que este tipo de obra tem sido realizado em muitos locais. Afinal, pintar uma faixa de pouco mais de um metro de largura numa avenida de trânsito pesado em São Paulo, por exemplo, nunca constituiu uma solução com a qualidade e segurança que os ciclistas merecem. Pistas estreitas e esburacadas tampouco servem. Para a segurança dos ciclistas, postes, árvores e colunas de viadutos deveriam estar a uma distância adequada das pistas. Mas não é o que acontece.

A triste constatação do absurdo dá-se pelos frequentes acidentes – alguns deles fatais – dos quais tomamos conhecimento no dia-a-dia das grandes cidades, além da falta gritante de uma abordagem mais profissional para este tipo de transporte ou lazer. À primeira vista, compreende-se o valor do ciclismo como estímulo à sustentabilidade urbana, mas também como fonte de saúde, lazer e estilo de vida. O que muitas vezes não se nota é que as autoridades simplesmente aproveitem a força dessas tendências contemporâneas para fins políticos.

Quando o “benefício” oferecido à população não passa de um improviso descuidado, em uma dissimulação que expõe as pessoas ao risco, não pode ser chamado de “apoio à causa”. E olhe que, nos dias atuais, não é preciso inventar nada para obter-se qualidade. Uma referência internacional como o documento “Cycleway Regulations – Guidelines and Practical Issues” pode facilmente ser aplicada em qualquer cidade do mundo, desde que haja seriedade. Mas aqui é que está o problema. A falta de apuro e informação


Data que historicamente comemora a luta e resistência do povo brasileiro, o 21 de abril deste ano infelizmente tornou-se mais um dia de “tapa na cara” de todos nós. Refiro-me ao dia em que um trecho de 50 m da Ciclovia Tim Maia desabou por conta de uma costumeira ressaca no Rio de Janeiro, matando ao menos três pessoas. Como fato isolado, pode-se questionar a qualidade do projeto, a falta de conhecimento apropriado das características das ondas no local, as dúvidas sobre a construção... E todo o inconformismo será atirado contra as pessoas diretamente associadas a esta obra. Ainda mais por tratar-se de um lugar lindo e paradisíaco, um “cartão postal”, como se dizia em outros tempos.

Mas, quando a este fato agregamos os projetos de ciclovias tocados em várias cidades do país, torna-se patente a precipitação com que este tipo de obra tem sido realizado em muitos locais. Afinal, pintar uma faixa de pouco mais de um metro de largura numa avenida de trânsito pesado em São Paulo, por exemplo, nunca constituiu uma solução com a qualidade e segurança que os ciclistas merecem. Pistas estreitas e esburacadas tampouco servem. Para a segurança dos ciclistas, postes, árvores e colunas de viadutos deveriam estar a uma distância adequada das pistas. Mas não é o que acontece.

A triste constatação do absurdo dá-se pelos frequentes acidentes – alguns deles fatais – dos quais tomamos conhecimento no dia-a-dia das grandes cidades, além da falta gritante de uma abordagem mais profissional para este tipo de transporte ou lazer. À primeira vista, compreende-se o valor do ciclismo como estímulo à sustentabilidade urbana, mas também como fonte de saúde, lazer e estilo de vida. O que muitas vezes não se nota é que as autoridades simplesmente aproveitem a força dessas tendências contemporâneas para fins políticos.

Quando o “benefício” oferecido à população não passa de um improviso descuidado, em uma dissimulação que expõe as pessoas ao risco, não pode ser chamado de “apoio à causa”. E olhe que, nos dias atuais, não é preciso inventar nada para obter-se qualidade. Uma referência internacional como o documento “Cycleway Regulations – Guidelines and Practical Issues” pode facilmente ser aplicada em qualquer cidade do mundo, desde que haja seriedade. Mas aqui é que está o problema. A falta de apuro e informação apropriada na construção das ciclovias constitui um grave sintoma de preguiça ou, o que é ainda pior, de crime flagrante.

É claro que cabe ao usuário apontar as deficiências e demandar correções. A sua vulnerabilidade inata não pode ser solucionada apenas por normas e regras. É preciso ir além, pois somente uma estrutura adequada pode proporcionar a segurança e o conforto que todos merecem, sejam ciclistas ou não.

De todo modo, é profundamente triste perceber que, quando se trata de obras públicas, a cultura do improviso e da falta de cuidado continua a pleno vigor no Brasil. Não é simplesmente por sua extensão que se pode medir o avanço das ciclovias. Ao contrário, também precisamos de qualidade, que se traduza em segurança e conforto para o usuário e dignidade para o cidadão.

*Yoshio Kawakami é consultor da Raiz Consultoria e diretor técnico da Sobratema

 

 

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