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Revista M&T - Ed.229 - Novembro 2018
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Especial Infraestrutura

Cultura da inovação

Após criar um programa de inovação na construção, a Andrade Gutierrez testa novas soluções em campo, que envolvem desde o uso de drones até inteligência artificial
Por Mariuza Rodrigues

Produzido pelo McKinsey Global Institute (MGI) em 2017, o relatório "Reinventing construction: A route to higher productivity" apontou um problema persistente para o setor de engenharia e construção: a baixa produtividade em comparação a outros setores econômicos, associada ao atraso tecnológico.

Segundo o relatório, a construção ainda é um dos ambientes menos digitalizados do mundo, conforme o Índice de Digitalização do MGI. Nos EUA, o setor ocupa o penúltimo lugar, enquanto na Europa é o último do Índice. Como se vê, o cenário é de urgência. Afinal, há um potencial de o setor elevar seu valor agregado em US$ 1,6 trilhão, mas também um abismo a ser superado para se chegar lá, ligado principalmente à incapacidade de se introduzir e assimilar inovações em todo o conjunto da cadeia produtiva.

O relatório indica que será preciso enfrentar desafios globais e uma revisão de todo o processo construtivo, com ênfase em aspectos como redefinição da regulamentação, readequação do modelo contratual para redefinir a dinâmica da indústria, remodelação dos processos de projeto e engenharia e melhoria na gestão de compras, cadeia de suprimentos e execução das obras. Por fim, sugere o uso de tecnologia digital, novos materiais e técnicas avançadas de automação, além de, é claro, dispor de mão de obra mais capacitada.

DESAFIOS

No Brasil, a construtora Andrade Gutierrez é um exemplo de como esse desafio já começou a ser enfrentado. No início deste século, a construtora percebeu que havia um gap entre as práticas convencionais e as possibilidades abertas pelo desenvolvimento da tecnologia, em um momento em que as inovações já sacudiam empresas de vários setores. Todavia, o tema Inovação só seria introduzido definitivamente na estratégia da empresa no biênio 2014/2015, no caso, com a meta de fortalecer o processo de compliance, em um momento crítico para a construtora, quando seu nome já aparecia nos autos da Lava Jato.

Em seguida, a Inovação passou a ser vista com


Produzido pelo McKinsey Global Institute (MGI) em 2017, o relatório "Reinventing construction: A route to higher productivity" apontou um problema persistente para o setor de engenharia e construção: a baixa produtividade em comparação a outros setores econômicos, associada ao atraso tecnológico.

Projeto da Construcode possibilita interação no canteiro em tempo real

Segundo o relatório, a construção ainda é um dos ambientes menos digitalizados do mundo, conforme o Índice de Digitalização do MGI. Nos EUA, o setor ocupa o penúltimo lugar, enquanto na Europa é o último do Índice. Como se vê, o cenário é de urgência. Afinal, há um potencial de o setor elevar seu valor agregado em US$ 1,6 trilhão, mas também um abismo a ser superado para se chegar lá, ligado principalmente à incapacidade de se introduzir e assimilar inovações em todo o conjunto da cadeia produtiva.

O relatório indica que será preciso enfrentar desafios globais e uma revisão de todo o processo construtivo, com ênfase em aspectos como redefinição da regulamentação, readequação do modelo contratual para redefinir a dinâmica da indústria, remodelação dos processos de projeto e engenharia e melhoria na gestão de compras, cadeia de suprimentos e execução das obras. Por fim, sugere o uso de tecnologia digital, novos materiais e técnicas avançadas de automação, além de, é claro, dispor de mão de obra mais capacitada.

DESAFIOS

No Brasil, a construtora Andrade Gutierrez é um exemplo de como esse desafio já começou a ser enfrentado. No início deste século, a construtora percebeu que havia um gap entre as práticas convencionais e as possibilidades abertas pelo desenvolvimento da tecnologia, em um momento em que as inovações já sacudiam empresas de vários setores. Todavia, o tema Inovação só seria introduzido definitivamente na estratégia da empresa no biênio 2014/2015, no caso, com a meta de fortalecer o processo de compliance, em um momento crítico para a construtora, quando seu nome já aparecia nos autos da Lava Jato.

Em seguida, a Inovação passou a ser vista como um diferencial competitivo para o mercado. Assim, a empresa começou a estruturar um modelo para materializar o que ainda eram somente ideias. O ponto inicial se deu com um grupo interno de Lean Construction, mostrando que o tema ainda era visto como prerrogativa da área de engenharia.

Monitoramento de caminhões via hardware foi a proposta da Rio Analytics

A empresa foi então em busca de consultorias para dar embasamento à sua revolução tecnológica interna. O primeiro resultado veio com a criação de um grupo de multiplicadores, encarregado de facilitar a nova cultura tanto na frente de obra como nos setores administrativos. Mas logo se percebeu a necessidade de agregar agentes externos, a fim de encurtar esse caminho. A partir disso, a empresa formulou um programa “guarda-chuva” para estimular a inovação de maneira mais ampla e aberta ao mercado, atraindo start-ups que começavam a se destacar. Foi assim que, em meados de 2017, surgiu o A2G – All Together, programa baseado em duas ações: o AG Digital Day e a aceleradora Vetor AG.

O primeiro consistiu em um desafio tecnológico proposto para que as start-ups resolvessem problemas específicos. A edição inaugural do programa teve como foco o setor de transmissão de energia, aproveitando o contrato que a empresa ganhou para construir um grupo de linhas da Equatorial Energia. Já o Vetor AG consistiu em um programa de aceleração de start-ups.

Por meio de drones, a Maply propôs controle digital dos processos construtivos

O aspecto inusitado é que a companhia decidiu constituir uma aceleradora interna, que funciona em sua própria sede, ao lado da engenharia, o que exigiu uma remodelação da área. As experimentações piloto, no entanto, são feitas em campo. Como passo inicial, foi realizada uma pesquisa para entender como seria o intercâmbio entre a AG e as start-ups. O resultado mostrou que a maior barreira para se trabalhar com construção pesada é o próprio setor, altamente regulamentado e com poucos players com qualificação técnica. Por outro lado, evidenciou-se que a maior dificuldade estava justamente em testar as inovações em escala.

RESULTADOS

Com 150 empresas inscritas, o primeiro ciclo de aceleração incluiu sete start-ups. As escolhidas foram: Levitar (Inteligência com drones); Construcode (Digitalização de projetos em campo); LEsense (Sensores para coleta automática de dados); Controller (Aplicativo de gestão de produtividade); Magalhães Gomes (Água magnetizada para produção de concretos e argamassa); Maply (Automação de voos de drones e medição de dados) e Rio Analytics (Inteligência Artificial para predição de falhas de ativos industriais).

CONFIRA OS PROJETOS E SOLUÇÕES DO PROGRAMA A2G

OBRA PILOTO SOLUÇÃO START-UP
BELO MONTE Automatização e digitalização dos processos de Monitoramento de PRAD e dos marcos superficiais da topografia, a partir da utilização de drones “Drone as a Service”: Operação com drones, sensoriamento de alta precisão, coleta inteligente e análise de dados e dashboard para tomada de decisão Levitar
BELO MONTE Instalação de sistema de imantadores em linha de produção de concreto, focado na mudança de comportamento da água de amassamento e com modificações do estado fresco (trabalhabilidade e coesão) e endurecido (resistência à compressão e retração) Imantação de água para redução de custos e melhoria de desempenho de concretos e argamassas Levitar MG
PMG Desenvolvimento da Backpack LEsense, que une sensores de umidade de solo, coletores de dados de sensores (IoT) e software de monitoramento de operação Monitoramento instantâneo de umidade do solo antes da compactação LEsense
UTENT Treinamento da equipe para coleta de dados com drones, processamento de imagens e utilização do software Maply, para monitoramento digital dos processos construtivos, através de mapeamento contínuo feito por drones Gerenciamento de atividades de campo de forma visual através de mapas de alta resolução e precisão gerados por drones de baixo custo e apresentados em uma plataforma online Maply
ROMA Personalização e melhoria do software e app da Controller. Validação do ganho de controle de produção dos serviços executados, melhoria na tomada de decisão e visão estratégica do projeto Plataforma de gestão da produtividade através da digitalização dos processos de controle e gestão Controller
UTENT Refinamento do software e implementação de integrações com o sistema interno de gestão de documentos existente. Validação de ganho de qualidade, assertividade e tempo Garantia de projetos atualizados e distribuídos em tempo real para projetistas, gestores e equipe no canteiro Construcode
UTENT Instalação de hardware em caminhões que se comunicam em tempo real com o sistema de inteligência artificial. O sistema realiza predição de falhas, identificando operações fora do padrão e gerando alarmes de inconformidade Inteligência artificial aplicada na predição de falhas de equipamentos, aumento de eficiência e otimização de operações Rio Analytics

 

Tecnologias focadas na digitalização têm espaço para avançar no setor

A partir daí, foram cinco meses de testes em campo com diferentes tecnologias, desde inteligência artificial para manutenção preditiva de equipamentos até soluções de concreto. Um dos projetos escolhidos, da Levitar, consiste no uso de drones para lançamento dos cabos nas torres de transmissão, superando um dos principais problemas nesse tipo de obra. Além de reduzir a utilização de tratores, a iniciativa diminuiu significativamente a área desmatada para a construção da linha.

Mas em todos os pilotos foram verificadas melhorias e oportunidades relevantes em relação ao método tradicional. “Podemos citar, por exemplo, a otimização de 40% de retrabalho em processos de gestão da qualidade em obras de terraplenagem, redução de 70% no consumo de papel na engenharia da obra e aumento da eficiência em mais de seis vezes em processos de monitoramento de obras, dentre outros”, informa Clarisse Gomes, gerente de excelência e inovação da AG.

Segundo a especialista, a Inovação é o caminho escolhido pela empresa para obter maior sustentabilidade em seus negócios e se tornar mais competitiva. “Inovar de forma fechada é um processo lento e de alto risco”, diz ela. “Por isso, decidimos criar um programa de inovação aberto, focado em projetos-piloto para a indústria de engenharia e construção.”

Outro ponto diferenciado é que todos os pilotos desenvolvidos são elaborados em conjunto com o time de operação. “Muitas vezes, são necessárias adaptações das soluções à nossa realidade, o que exige flexibilidade das duas partes (empresa e start-up) para entendermos as reais necessidades da operação”, comenta Clarisse Gomes. “Além disso, a cultura da indústria de engenharia é conservadora, de modo que o modelo de inovação aberta exige flexibilidade para o desenvolvimento de um novo mindset.”

A especialista destaca que todas as tecnologias que contribuam para elevar a produtividade na construção são muito bem-aceitas. Segundo ela, trata-se de um mercado tradicional e pouco digitalizado. “Se não fizermos a digitalização de processos, pouco absorveremos dessa transformação trazida pela Indústria 4.0”, alerta. “Portanto, tecnologias focadas em digitalização também são muito bem-aproveitadas.”

A seu ver, o processo tem outro aspecto positivo: uma nova rede de aprendizado em formação. “O objetivo não foi apenas absorver novas tecnologias, mas também aprender quais são as tecnologias que funcionam na nossa indústria, além de toda a transformação cultural que o programa promove internamente”, finalizou.

Saiba mais:

Vetor AG: vetorag.com.br

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