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Revista M&T - Ed.179 - Maio 2014
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Tecnologia

Agricultura high-tech

Após lançar o primeiro laboratório exclusivo para agricultura de precisão, Embrapa apresenta as principais soluções já desenvolvidas no país

Aos poucos, a tecnologia está mudando a realidade da agricultura brasileira. Liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o movimento em direção à agricultura de precisão pode colocar a produção nacional – já a segunda do mundo em volume – entre as principais também no quesito tecnológico.

Na região de Viçosa (MG), por exemplo, isso já acontece. Em uma área repleta de inclinações geográficas, com morros e planícies compostos por solos de características variáveis, um produtor de café resolveu mapear a área de sua fazenda, identificando os diferentes tipos de terreno que a compõem. Identificar as diferenças de solo em uma mesma fazenda já é uma prática comum, mas esse produtor – com a ajuda da Universidade Federal de Viçosa – realizou a prospecção em todo o terreno com mais de uma única amostragem, como é o habitual.

Como resultado, descobriu-se que em 10% da fazenda as características do solo eram mais propícias à produção de café de melhor qualidade que a espécie arábica (Coffea arabica) plantada nas demais áreas das terras. A partir do estudo, esses frutos especiais passaram a ser comercializados com exclusividade a clientes específicos, que pagam o dobro do valor pela saca desse café. “Ou seja, em apenas 10% do terreno o produtor ganha 20% da sua receita”, compara Ricardo Inamasu, coordenador da Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa. “Somando a isso as economias obtidas com a destinação correta de fertilizantes para cada solo, além de outros tratamentos e irrigação personalizados, obtém-se uma economia bastante interessante.”

COMPATIBILIDADE

Segundo o especialista do Embrapa, esse caso é exemplar sobre os benefícios potenciais trazidos pela agricultura de precisão, um conceito que – como tantos na indústria – só se materializa de fato quando há retorno econômico, como ocorreu com o produtor de café em Viçosa. “Diferentemente do que imaginam muitas pessoas, a agricultura de precisão não é só a utilização de equipamentos computadorizados, GPS, sensores etc.”, explica Inamasu. “Essencialmente, essa técnica refere-se à capacidade de identificar a variabilidade espacial de cada solo, aproveitando-o da melhor maneira possível para o plantio e col


Aos poucos, a tecnologia está mudando a realidade da agricultura brasileira. Liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o movimento em direção à agricultura de precisão pode colocar a produção nacional – já a segunda do mundo em volume – entre as principais também no quesito tecnológico.

Na região de Viçosa (MG), por exemplo, isso já acontece. Em uma área repleta de inclinações geográficas, com morros e planícies compostos por solos de características variáveis, um produtor de café resolveu mapear a área de sua fazenda, identificando os diferentes tipos de terreno que a compõem. Identificar as diferenças de solo em uma mesma fazenda já é uma prática comum, mas esse produtor – com a ajuda da Universidade Federal de Viçosa – realizou a prospecção em todo o terreno com mais de uma única amostragem, como é o habitual.

Como resultado, descobriu-se que em 10% da fazenda as características do solo eram mais propícias à produção de café de melhor qualidade que a espécie arábica (Coffea arabica) plantada nas demais áreas das terras. A partir do estudo, esses frutos especiais passaram a ser comercializados com exclusividade a clientes específicos, que pagam o dobro do valor pela saca desse café. “Ou seja, em apenas 10% do terreno o produtor ganha 20% da sua receita”, compara Ricardo Inamasu, coordenador da Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa. “Somando a isso as economias obtidas com a destinação correta de fertilizantes para cada solo, além de outros tratamentos e irrigação personalizados, obtém-se uma economia bastante interessante.”

COMPATIBILIDADE

Segundo o especialista do Embrapa, esse caso é exemplar sobre os benefícios potenciais trazidos pela agricultura de precisão, um conceito que – como tantos na indústria – só se materializa de fato quando há retorno econômico, como ocorreu com o produtor de café em Viçosa. “Diferentemente do que imaginam muitas pessoas, a agricultura de precisão não é só a utilização de equipamentos computadorizados, GPS, sensores etc.”, explica Inamasu. “Essencialmente, essa técnica refere-se à capacidade de identificar a variabilidade espacial de cada solo, aproveitando-o da melhor maneira possível para o plantio e colheita.”

É a partir desse conceito basilar que Inamasu coordena o primeiro espaço totalmente dedicado à agricultura de precisão no Brasil. Pertencente à Embrapa, o Laboratório de Referência Nacional em Agricultura de Precisão (Lanapre) recebeu investimento de R$ 7 milhões da própria Embrapa. Compartilhando a estrutura física da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e da Universidade de São Paulo (USP), o laboratório foi inaugurado em setembro de 2013 e, desde então, vem aprimorando testes e pesquisas iniciados pela Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa, da qual Inamasu também é coordenador (saiba mais no quadro da pág. 30).

Atualmente, o trabalho do Lanapre é voltado ao desenvolvimento de sistemas de informação, o que engloba a eletrônica embarcada em equipamentos móveis. “Nesse sentido, entendemos que a padronização da conexão entre os equipamentos e implementos, por exemplo, é algo fundamental”, informa o especialista, cuja equipe tem realizado avaliações de compatibilidade em equipamentos de diferentes marcas.

Porém, como explica Inamasu, em muitos casos o fabricante que produz o trator e o implemento não é o mesmo, o que gera um problema bem conhecido no setor. “Numa adubadora, por exemplo, normalmente há sensores que avaliam se está caindo adubo na quantidade pré-programada, uma informação que pode ser disponibilizada para o operador, mas requer um display específico para isso”, diz ele. “Suponhamos que esse mesmo trator também trabalhe com plantadeiras, nas quais os sensores captam informação e disponibilizam em outro display dedicado. Depois, agregue mais dois tipos de implementos passíveis de uso por esse mesmo trator e, junto ao display do próprio equipamento propulsor, teremos cinco telas dentro da cabine, que é um espaço confinado para o operador.”

PROTOCOLO

De fato, esse é um problema que incomoda muita gente na indústria. Afinal, se todos os implementos do trator descritos por Inamasu usassem o mesmo protocolo de comunicação, seria possível programar um só display para receber todas as informações. Além disso, com um protocolo único seria possível intercambiar dados operacionais das máquinas de diferentes fabricantes, otimizando o controle de produtividade e manutenção das máquinas. “Internacionalmente, o padrão de comunicação utilizado para máquinas agrícolas é o ISOBUS, que estamos trabalhando para que seja adotado também no Brasil”, diz o coordenador, referindo-se à tecnologia de dados que tem por base a norma internacional ISO 11783 (“Tratores e máquinas agrícolas e florestais – Rede serial para controle e comunicação de dados”).

De acordo com o especialista, o Lanapre trabalha ainda para o desenvolvimento de informações sobre equipamentos e processos, de modo que seja possível avançar e tornar a agricultura realmente mais precisa, aumentando o conhecimento disponível sobre a variabilidade e a fertilidade do solo. Assim, o produtor pode adicionar a quantidade correta de nutrientes, adubos ou defensivos para o manejo das culturas e dos sistemas de produção animal, tudo de forma mais inteligente.

“O conceito de agricultura de precisão, que é o manejo de sítios específicos, implica na racionalização do uso de insumos, que são bem caros”, comenta Maurício Lopes, presidente da Embrapa. “Além disso, aumenta a sustentabilidade dos sistemas produtivos, fazendo uso correto de quantidades, no momento e no lugar certo.”

AUTOMAÇÃO

Mas, obviamente, o Lanapre também está incumbido de avaliar tecnologias de ponta, incluindo sistemas avançados de georreferenciamento, que são utilizados pela Nasa e por outras agências espaciais ao redor do mundo. Atualmente, há ainda pesquisas sobre tecnologias ópticas utilizadas na avaliação do estado das plantas, que se assemelham à técnica de reconhecimento de sensações pelo som. É como num telefonema, diz Inamasu, no qual as ondas sonoras permitem identificar se o interlocutor está triste ou alegre, por exemplo. “As plantas também transmitem sensações de ‘tristeza’ ou ‘alegria’ e, hoje, já sabemos que é possível identificá-las pelo espectro, que é decodificado em escalas de cores para a nossa leitura”, explica o pesquisador.

O laboratório conta ainda com um campo experimental de automação agropecuária. Com cinco hectares de área, o projeto prevê uma casa de vegetação e pequenas áreas para plantio, utilizadas no apoio ao desenvolvimento de metodologias de avaliação, protótipos de funções de máquinas, equipamentos, sensores, atuadores e até mesmo de Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant), incluindo drones para mapeamento e monitoramento das áreas de plantio avaliadas.

Tais pesquisas são conduzidas em parceria com a Universidade de São Paulo, que – junto à UFScar – assinou protocolo de intenções para criação da Unidade Mista de Pesquisa em Automação para Sustentabilidade Agropecuária (UMiP). O documento foi firmado pelo presidente da Emprapa, Maurício Lopes, que explica as vantagens da parceria. “Para elevar a base de conhecimento da Embrapa, temos de nos aproximar das universidades, pois é nelas que está o conhecimento mais profundo, incluindo ciências mais básicas”, diz, destacando que em 2012 a Embrapa já havia se aproximado da Unicamp com o mesmo intuito.

No texto do protocolo de intenções do UMiP, aliás, está previsto o desenvolvimento de estratégias de monitoramento, coleta de dados e automação da aplicação de insumos agroquímicos, água e sementes, dentre outras ações. As soluções visam à diminuição da contaminação dos recursos hídricos superficiais, subterrâneos e do próprio solo, além, é claro, da elevação da eficiência no uso dos insumos.

Rede apresenta resultados de pesquisa

Criada em 2009, a Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa agrupa 20 centros de pesquisas, além de parcerias com universidades, instituições de ciência e tecnologia e empresas. Ao todo, são 214 pesquisadores envolvidos, distribuídos por unidades experimentais nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. As pesquisas da rede, por sua vez, são divididas em onze culturas perenes e anuais, sendo que atualmente há em andamento 100 atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Nestes quatro anos de atuação, alguns resultados interessantes já foram apresentados pelo projeto, incluindo um medidor de condutividade elétrica do solo, que é utilizado para mapear as áreas de cultura perenes. Também estão em desenvolvimento sensores de plantas, solo e ar, assim como sistemas de mapeamento e controle de irrigação por rede sem fio. A lista de projetos é ainda mais extensa, mas vale destacar a criação de um banco de dados georreferenciados com o padrão ISO para apoio à gestão e uso no campo em tempo real.

De acordo com a Embrapa, os próximos passos envolvem novos modelos de organização de pesquisa, dentre os quais um arranjo de projetos em agricultura de precisão dimensionados num horizonte de dez anos, além de um projeto de automação agrícola, pecuária e florestal.

 

 

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