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Revista M&T - Ed.208 - Dez/Jan 2017
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A Era das Máquinas

A maior hidrelétrica do mundo

Por Norwil Veloso

As obras da Usina de Itaipu foram concluídas em 1982, dobrando a capacidade de geração de energia do Brasil

A construção da Usina de Itaipu, suas idas e vindas políticas e suas características construtivas diferenciadas lhe dão um lugar de destaque na História da engenharia brasileira e mundial.

De fato, sua singularidade começa pela geopolítica. Desde o século XVIII havia um impasse diplomático entre Brasil e Paraguai, que disputavam a posse de terras na região do Salto de Sete Quedas. Em 1750, Espanha e Portugal assinaram o Tratado da Permuta, que era impreciso ao determinar os limites na margem direita do Rio Paraná. Tratados subsequentes buscaram esclarecer a questão, sem êxito.

A Guerra do Paraguai (1865-1870) reabriu a polêmica em torno dessa fronteira, pois, conforme o Tratado de Paz (1872), após o Salto os territórios deveriam ser divididos pelo cume da Serra de Maracaju, o que gerou interpretações divergentes, já que a Serra se dividia em dois ramos, um acima e outro abaixo das Sete Quedas.

Vários estudos foram realizados até os anos 60 para avaliar o potencial hidrelétrico do Rio Paraná. Os resultados reaqueceram a disputa até que, em 1962, os governos de Brasil e Paraguai resolveram juntar forças para resolver a situação.

“PEDRA QUE CANTA”

O resultado das negociações foi a elaboração da Ata do Iguaçu, assinada em 22 de junho de 1966, que manifestava a disposição de estudar o aproveitamento dos recursos hidráulicos no Rio Paraná, “desde e inclusive o Salto de Sete Quedas até a foz do Rio Iguaçu”.

Em 1967, foi criada uma Comissão Mista para implementar a Ata do Iguaçu e, em 26 de abril de 1973, Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu, instrumento legal para o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná pelos dois países.

Nesse mesmo ano, técnicos percorreram o rio em busca do ponto mais indicado para a construção da usina, escolhendo um trecho do rio conhecido como Itaipu (que, em tupi, significa “a pedra que canta”), a poucos quilômetros da confluência com o Rio Iguaçu.

Em maio de 1974 foi formada a Itaipu Binacional, para gerenciar a construção da usina. Sua criação encerrou o im


As obras da Usina de Itaipu foram concluídas em 1982, dobrando a capacidade de geração de energia do Brasil

A construção da Usina de Itaipu, suas idas e vindas políticas e suas características construtivas diferenciadas lhe dão um lugar de destaque na História da engenharia brasileira e mundial.

De fato, sua singularidade começa pela geopolítica. Desde o século XVIII havia um impasse diplomático entre Brasil e Paraguai, que disputavam a posse de terras na região do Salto de Sete Quedas. Em 1750, Espanha e Portugal assinaram o Tratado da Permuta, que era impreciso ao determinar os limites na margem direita do Rio Paraná. Tratados subsequentes buscaram esclarecer a questão, sem êxito.

A Guerra do Paraguai (1865-1870) reabriu a polêmica em torno dessa fronteira, pois, conforme o Tratado de Paz (1872), após o Salto os territórios deveriam ser divididos pelo cume da Serra de Maracaju, o que gerou interpretações divergentes, já que a Serra se dividia em dois ramos, um acima e outro abaixo das Sete Quedas.

Vários estudos foram realizados até os anos 60 para avaliar o potencial hidrelétrico do Rio Paraná. Os resultados reaqueceram a disputa até que, em 1962, os governos de Brasil e Paraguai resolveram juntar forças para resolver a situação.

“PEDRA QUE CANTA”

O resultado das negociações foi a elaboração da Ata do Iguaçu, assinada em 22 de junho de 1966, que manifestava a disposição de estudar o aproveitamento dos recursos hidráulicos no Rio Paraná, “desde e inclusive o Salto de Sete Quedas até a foz do Rio Iguaçu”.

Em 1967, foi criada uma Comissão Mista para implementar a Ata do Iguaçu e, em 26 de abril de 1973, Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu, instrumento legal para o aproveitamento hidrelétrico do Rio Paraná pelos dois países.

Nesse mesmo ano, técnicos percorreram o rio em busca do ponto mais indicado para a construção da usina, escolhendo um trecho do rio conhecido como Itaipu (que, em tupi, significa “a pedra que canta”), a poucos quilômetros da confluência com o Rio Iguaçu.

Em maio de 1974 foi formada a Itaipu Binacional, para gerenciar a construção da usina. Sua criação encerrou o impasse diplomático entre Brasil e Paraguai. O entendimento dos dois países para a construção de Itaipu, contudo, estremeceu as relações de ambos com a Argentina, que temia que a usina prejudicasse seus direitos e interesses sobre as águas do Rio Paraná.

A solução veio com a assinatura do Acordo Tripartite, entre Brasil, Paraguai e Argentina, em 19 de outubro de 1979, que determinou regras para o aproveitamento dos recursos hidráulicos do Rio Paraná, desde as Sete Quedas até a foz do Rio da Prata.

ETAPAS INICIAIS

A construção de Itaipu começou em 1974, com a chegada das primeiras máquinas ao futuro canteiro de obras. No segundo semestre de 1974, foi estruturado o acampamento pioneiro e as estradas de acesso receberam melhorias.

Entre 1975 e 1978, mais de nove mil moradias foram construídas nas duas margens para abrigar a equipe que atuaria na obra. Nessa época, Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes. Dez anos depois, a população era de mais de 100 mil habitantes.

Nas frentes de obra, a primeira tarefa foi alterar o curso do Rio Paraná, removendo 55 milhões de metros cúbicos de terra e rocha para escavar um desvio de 2 km de extensão, 150 metros de largura e 90 metros de profundidade.

Em 20 de outubro de 1978, 58 toneladas de dinamite explodiram as duas ensecadeiras que protegiam a construção do novo curso. O novo canal permitiu secar o trecho do leito original do rio para a construção da barragem principal, feita em concreto.

Começou então uma nova etapa da construção de Itaipu: a concretagem da barragem. Num único dia, em 14 de novembro de 1978, foram lançados na obra 7.207 metros cúbicos de concreto, um recorde sul-americano, equivalente a um prédio de dez andares a cada hora, feito obtido graças ao uso de sete cabos aéreos (blondins) para o lançamento de concreto. O volume total de concreto lançado na barragem – 12,3 milhões de metros cúbicos – seria suficiente para concretar quatro rodovias do porte da Transamazônica.

A mão de obra também registra números superlativos. Entre 1978 e 1981, foram contratadas até 5 mil pessoas por mês. No pico da construção da barragem, Itaipu mobilizou diretamente cerca de 40 mil trabalhadores no canteiro de obras e nos escritórios de apoio no Brasil e no Paraguai.

MONTAGEM

Com a concretagem quase pronta, a fase seguinte foi a montagem das unidades geradoras. O transporte de peças inteiras desde as instalações dos fabricantes até a usina tornou-se um desafio. A primeira roda de turbina, com 300 toneladas, por exemplo, saiu de São Paulo em 4 de dezembro de 1981 e chegou ao canteiro de obras somente em 3 de março de 1982, pois a rede viária e algumas pontes existentes em diversas alternativas de trajeto não tinham condições de suportar o peso, obrigando a carreta a percorrer um caminho mais longo, com 1.350 km. Esse transporte ganhou agilidade ao longo do tempo, chegando-se a 26 dias de viagem entre a fábrica e a usina.

As obras da barragem foram concluídas em outubro de 1982. O fechamento das comportas do canal de desvio iniciou a formação do reservatório da usina, cuja lâmina de água cobre 135 mil hectares, quatro vezes o tamanho da Baía da Guanabara. Foram necessários 14 dias para encher o reservatório, que levou à remoção de mais de 36 mil animais que viviam na área a ser inundada.

Em 5 de novembro de 1982, com o reservatório já formado, os presidentes do Brasil, João Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionaram o mecanismo que levanta automaticamente as 14 comportas do vertedouro, inaugurando oficialmente a maior hidrelétrica do mundo.

Aliás, a usina praticamente dobrou a capacidade de geração de energia do Brasil. A potência instalada, que era de 16,7 mil megawatts, recebeu mais 14 mil megawatts. O primeiro teste de turbina ocorreu em 17 de dezembro de 1983, sendo que a produção de energia iniciou-se em 5 de maio de 1984, quando entrou em operação a primeira das 20 unidades geradoras do projeto. Em sete anos, foram instaladas 18 unidades geradoras, duas a três por ano.

No primeiro ano de funcionamento (1984), foram gerados 277 megawatts (MW). A venda de energia começou em 1 de março de 1985, obtendo recorde de produção em 2000, quando foram gerados 93,4 bilhões de quilowatts-hora (Kwh).

Em maio de 2007, entraram em operação as últimas duas das 20 unidades geradoras previstas no projeto original da usina. Com as 20 unidades geradoras em atividade e o Rio Paraná com chuvas em níveis normais, a geração pode chegar a 100 bilhões de Kwh, superando a capacidade da hidrelétrica chinesa de Três Gargantas, construída no Rio Yang-tsé, que fornece 85 bilhões de Kwh.

Leia na próxima edição: A mecanização da britagem

 

 

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